É graças a uma mulher que, hoje, podemos acessar a web sem a necessidade de fios. A estrela de Hollywood Hedy Lamarr era também uma inventora e estudiosa de mão cheia. Na época da Segunda Guerra, a atriz criou um sistema de comunicações para as Forças Armadas dos EUA que serviu não apenas como base para a invenção do Wi-Fi, mas também para a atual telefonia celular.
Apesar de ser a “mãe” de ambas as tecnologias, tanto Hedy quanto mulheres no geral ainda sofrem preconceito e silenciamento no setor de tecnologia e sistema da informação. No entanto, a luta diária não faz com que elas desistam. Entenda:
O Brasil vai na contramão do resto do mundo: embora as estatísticas mostram que o público masculino é o que predomina no acesso à internet, as mulheres formam a maior parte dos usuários no país. Uma pesquisa feita em 2014 já apontava que mais da metade dos internautas brasileiros era formado por mulheres.
Em outros setores que exigem uso de internet e computadores, as mulheres também dominam. Em marketing digital, por exemplo, elas já ocupam 54% dos cargos. Em finanças, chegaram a 48% — um número expressivo quando comparamos dados de poucos anos atrás.
Apesar dos números, a quantidade trabalhando no setor de Tecnologia da Informação ainda é pequena. Segundo dados do CAGED, a quantidade de mulheres nos cargos de Tecnologia da Informação passou de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil — representando um crescimento de 60% entre 2014 e 2019. No entanto, esse número ainda representa 20% dos profissionais de TI atuantes no mercado.
Durante as décadas de 1960-80, as mulheres dominaram o mercado de engenharia de software, enquanto a parte do hardware ficava com os homens. Mas sua história no segmento começa bem antes, com pioneiras silenciadas pela história escrita por homens.
Alan Turing é o pai da computação, mas provavelmente seu trabalho não seria possível se, antes, Ada Lovelace não tivesse analisado, traduzido e complementado o trabalho de diversos matemáticos de sua época. Entre 1842 e 1843, ao traduzir o trabalho do militar italiano Luigi Federico Menabrea, Ada complementou com notas que incluíam um algoritmo para ser processado por máquinas, considerado o primeiro programa de computador da história muito antes da criação do eletrônico.
Entre 1944 e 1946, seis mulheres, conhecidas como As Garotas do ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer ou Computador Integrador Numérico Eletrônico) permitiram que primeiro computador digital eletrônico reduzisse o tempo de processamento de dados de 30 horas para 15 segundos. No entanto, não foram convidadas para a festa de lançamento da máquina.
O apagamento da importância das mulheres foi tão grande que, em 1996, na celebração de 50 anos do ENIAC, nenhuma das seis garotas foi convidada para participar — Ruth Lichterman já havia falecido. Só no ano seguinte elas foram reconhecidas.
Durante as décadas seguintes, as mulheres continuaram trabalhando para desenvolver a tecnologia e permitir que as facilidades da atualidade existissem:
Acredita-se que, entre as décadas de 1970 e 1980, houve um aumento de 10% para 36% da participação de mulheres mulheres entre os profissionais de computação. Além disso, a maioria dos estudantes era do sexo feminino.
A partir da década de 80, os homens começaram a invadir esse espaço, até dominá-lo completamente durante o início dos anos 2000.
Há várias teorias sobre os motivos dessa mudança. Uma delas diz respeito ao surgimento do computador pessoal. Toda a campanha de divulgação foi voltada para o público masculino, para os jogos. Além disso, há o estereótipo cultural de que meninas devem ganhar bonecas, enquanto meninos são presenteados com jogos, bolas, skates e demais itens para esporte.
Mulheres também não são estimuladas a entrar no campo de exatas, pois são ligadas à “emoção” e, portanto, deveriam seguir para as áreas de ciências humanas e da saúde.
Outro fator importante é que até mesmo os testes de recrutamento da área começaram a estimular a presença do sexo masculino. O perfil de personalidade, por exemplo, viam como funcionário ideal para tecnologia um profissional com “desinteresse nas pessoas”, que não gosta de “atividades que envolvam interação pessoal”.
Pensando no Vale do Silício, o berço de ouro da tecnologia na atualidade, dá para entender por que mulheres são tão excluídas do mercado ainda hoje. No Twitter, por exemplo, 79% dos diretores são homens. A desenvolvedora de software Tina Huang, que trabalhou na empresa entre 2009 e junho de 2014, processou-a por deixá-la de lado nas oportunidades de promoção e de cargos de liderança. Até mesmo o Google tem números ruins: menos de 30% de seus funcionários são mulheres.
Segundo o Censo da Educação Superior 2015, do Inep, embora 60% dos formandos no ensino superior brasileiro sejam do público feminino, apenas 23,9% das mulheres se formam em cursos de engenharia.
Em 2018, uma pesquisa da Revelo mostrou que as mulheres que trabalham com TI recebem 17,4% a menos que os homens.
Apesar dos números revoltantes, as mulheres não deixam de lutar por seu lugar ao sol na área de tecnologia. É o caso de Marissa Mayer, ex-Google e ex-CEO do Yahoo!, Ginni Rometty, CEO da IBM, a brasileira Nina Silva, CEO e uma das fundadoras do Movimento Black Money e da fintech D’Black Bank, Sheryl Sandberg, COO do Facebook, Susan Wojcicki, CEO do YouTube, e Cristina Junqueira, uma das fundadoras do Nubank.
Apesar dos percalços, mulheres podem sim dominar o ramo da tecnologia — e quaisquer outros que quiserem.
Um viva às mulheres da tecnologia, comunicação, educação, saúde e todas as áreas que, com inteligência, dedicação e resiliência, transformam vidas diariamente.
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